
A suplementação com creatina não causa comprometimento na função renal, como mostra uma pesquisa realizada na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP. A substância, usada para aumentar o desempenho físico, é proibida no Brasil. O estudo, realizado em pessoas saudáveis com idade média de 24 anos, combinou suplementação e atividade física moderada (corrida e caminhada, sem constatar deterioração no funcionamento dos rins.
A  utilização da creatina como suplemento alimentar é proibida no País  pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 1998. “Não  havia estudos retrospectivos que mostrassem o comprometimento dos rins,  apenas estudos de caso, que não são conclusivos para o banimento”,  aponta o pesquisador Bruno Gualano, formado em Educação Física, um dos  participantes do estudo. “A creatina já é absorvida pelo organismo,  principalmente na ingestão de carnes vermelhas, e a suplementação é um  método consagrado para melhorar o rendimento físico, não sendo  considerada doping”.
A  pesquisa utilizou dois marcadores da função renal para avaliar os  efeitos da suplementação, sendo a creatinina o mais conhecido. “Porém,  como o organismo já converte espontaneamente a creatina em creatinina, o  suplemento poderia aumentar naturalmente as concentrações do marcador,  tornando-o impreciso para o estudo”, explica o pesquisador. “Por essa  razão, foi adotado um marcador independente, a cistatina-C, pois a  quantidade eliminada não sofre influência da suplementação”.
O  estudo foi feito com dois grupos de pessoas saudáveis, com hábitos  sedentários, submetidos a atividade física moderada por três meses.  “Nesse período, um dos grupos recebeu diariamente uma suplementação de  cerca de 10 gramas de creatina, e o outro a mesma quantidade de glicose,  como placebo”, conta Gualano. “Os resultados mostram que a  suplementação não interferiu na função renal”, destaca.
Exercícios
Os dois grupos apresentaram queda nos níveis de cistatina-C, o que reforçou as evidências de melhora no funcionamento dos rins. “Quanto à melhora, a hipótese mais provável é que ela seja um reflexo da atividade física realizada pelos participantes durante o estudo”, aponta o pesquisador.
Os dois grupos apresentaram queda nos níveis de cistatina-C, o que reforçou as evidências de melhora no funcionamento dos rins. “Quanto à melhora, a hipótese mais provável é que ela seja um reflexo da atividade física realizada pelos participantes durante o estudo”, aponta o pesquisador.
Gualano  ressalta que os resultados da pesquisa são válidos para pessoas  saudáveis. “Novos estudos devem ser feitos para avaliar os efeitos da  suplementação em pessoas com predisposição a problemas renais, como os  portadores de diabetes do tipo 2”, afirma. “Há muitas pesquisas sobre os  efeitos terapêuticos da creatina em casos de distrofias musculares,  Parkinson e Alzheimer, mas as referências sobre efeitos adversos são  escassas na literatura científica”.
Segundo  o pesquisador, também é preciso estudar o impacto da suplementação em  pessoas que usam a creatina para aumentar a massa muscular.  “Normalmente, a substância é usada para fornecer energia em atividades  atléticas de altíssima intensidade e curta duração, como provas de 100  metros rasos no atletismo”, relata. “Mas como a creatina gera um grande  acúmulo de água nos músculos, ela é usada em academias para ganho de  peso, o que é conseguido com um consumo elevado de proteínas mais a  suplementação, criando uma situação diferenciada”.
O  trabalho com a creatina foi realizado no Laboratório de Nutrição e  Metabolismo Aplicados à Atividade Motora da EEFE, com a coordenação do  professor Antonio Herbert Lancha Junior. Os marcadores da função renal  foram obtidos em parceria com o professor Antonio Carlos Seguro, do  Departamento de Nefrologia da Faculdade de Medicina (FM) da USP. Os  resultados da pesquisa foram publicados em artigo no "European Journal  of Applyed Physiology", uma das principais publicações internacionais da  área de fisiologia.
Mais informações: (0XX11) 9619-5511, com Bruno Gualano
